Começo esse artigo com um trecho do livro de Maria Alice Souza e Silva Construindo a leitura e a escrita: reflexões sobre uma prática alternativa em alfabetização: “A criança lê o mundo que a rodeia muito antes de um aprendizado sistemático da leitura e escrita” (1991, p.21).
Se a criança lê o mundo muito antes de aprender a leitura e a escrita, a prática pedagógica nos três primeiros anos da alfabetização precisa estar voltada para a dimensão social, para o conhecimento de mundo dessa criança.
A alfabetização, para alguns professores, é pautada no método silábico, no qual o aluno decodifica os símbolos alfabéticos (as letras) de forma mecânica e repetitiva, fazendo com que o processamento da leitura e da escrita aconteça separadamente.
Nos anos iniciais, ler e escrever precisam caminhar juntos. O alfabetizar precisa ser construído com base em textos diversificados que façam parte do cotidiano do aluno. Após a leitura de diferentes textos e histórias, o professor alfabetizador precisa provocar questionamentos que possibilitem o letramento efetivo.
Exemplifico uma escola que utilizava o método fônico na etapa da alfabetização e a professora do 1º ano, antes mesmo de apresentar a letra A aos alunos, contava uma história de um anão chamado Atchim, que tinha vários outros amigos. Durante algumas aulas, a história do anão Atchim era recapitulada e recontada pelas próprias crianças, pois o objetivo da professora era que as crianças se familiarizassem com som da letra A. A cada letra ensinada, havia a história de um personagem com características dos próprios alunos. Na aula que tinha o objetivo de ensinar a letra U, a professora contava a história do urso Ulisses, que era amigo do anão Atchim e que um dia o anão deu a mão para o urso e que juntos formaram uma palavra. Como os alunos já estavam habituados com o som das letras por conta das histórias, conseguiram compreender que a palavra formada foi AU.
A partir do conhecimento do contexto social dos alunos, é possível planejar práticas pedagógicas baseadas em gêneros textuais articulando a leitura e a escrita com oralidade, diálogo e a reflexão, fazendo com que o aluno consiga processar o significado da palavra e não somente ler de forma mecânica e sem contexto.
* Vanessa Leite é formada em História pela Universidade do Vale do Paraíba e Pedagogia pela Universidade de Taubaté. Foi professora de Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio e atuou na Educação de Jovens e Adultos por sete anos. Atualmente faz Pós-graduação em Gestão Escolar na USP, é analista de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Educacionais e atua na área da Educação há mais de 10 anos.