*por Maurício Fernandes Pereira
Em um momento no qual o Brasil vive às vésperas da mudança curricular à luz da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cabe pensar “fora da caixa”. O filósofo italiano Nuccio Ordine, em seu livro A utilidade do Inútil, convida-nos a refletir sobre a importância de conteúdos considerados inúteis. “Existem saberes considerados inúteis que são indispensáveis para o crescimento da humanidade. Útil é tudo aquilo que nos ajuda a sermos melhores e a melhoramos o mundo. “O que, culturalmente, aproxima-nos da sabedoria.
O autor nos mostra como “a lógica utilitarista e o culto da posse acabam por murchar o espírito das pessoas, pondo em perigo não só a cultura, a criatividade e as instituições de ensino, mas valores fundamentais como a dignidade humana, o amor e a verdade”.
Mostra ainda, com base em um texto do pensador americano Abraham Flexner, que tanto no âmbito das ciências humanas, quanto no âmbito das ciências exatas, é possível ensinar a utilidade do inútil. Se perguntado sobre o que se considera nas escolas, ou mesmo nos sistemas educacionais, como componente curricular inútil, certamente ouviríamos respostas como: literatura, arte em todas as suas expressões, as línguas clássicas, a sociologia, a filosofia, a educação física. Sem falar nos conteúdos que tratam de espiritualidade e de sensibilidade.
O conceito utilitarista e o lucro imediato comandam a elaboração dos nossos currículos. Daí a necessidade de se refletir, pensar mais, comprometer-se mais com uma educação que fortaleça a convivência, a dimensão socioemocional e que promova a vida, dando o merecido destaque aos componentes curriculares considerados secundários, origem do amálgama que pavimenta o caminho para a sabedoria.
Acima da lógica utilitarista, precisamos compor nossos currículos com mais elementos provenientes da criatividade, inovação, colaboração, espírito de equipe, do altruísmo e do bem comum. Com isso, poderemos caminhar para escolas mais flexíveis, com clima escolar mais leve, dando sentido e significado no tempo e espaço, em busca da qualidade da aprendizagem com a diminuição do abandono escolar.
*Maurício Fernandes Pereira é Secretário Municipal de Educação de Florianópolis